Exposição da sua Biblioteca Pessoal com livros, revistas, quadrinhos, moedas e selos
Raul Pedro Tartarotti nasceu em Farroupilha, no dia 1º de Novembro de 1930. Já com 13 anos, começou a trabalhar em um armazém. Trabalhou, também, em um atacado antes de ingressar no Banrisul, onde trabalhou por 34 anos, de 1948 a 1982.
Como bancário, morou em várias cidades: Gramado, Canela, Veranópolis, Farroupilha, Itaqui, Viamão, entre outras. Neste tempo, período nasceram seus dois filhos, Kátira e Raul Antonio.
Quando saiu do banco, decidiu voltar a sua cidade de origem. Lá, em sua casa, montou um escritório no qual passou a colecionar livros e quadrinhos. Sobre os gibis, o mais importante era o do Pato Donald. Como ele mesmo contava: comprava um para as crianças e um para si mesmo.
Com o acúmulo de documentos, ele decidiu encadernar seus materiais, o que manteve fidelidade e qualidade a atual biblioteca.
Assim como fez com livros, fez igual para selos, moedas e até matérias de jornais. Um exemplo foi em 2006, quando o Internacional foi campeão mundial – juntou e encadernou todas notícias ligadas a este evento. Sendo assim, esta Biblioteca reflete seu interesse em preservar e valorizar a história que sempre o acompanhou.
Escritor de 2 livros – um sobre a história de sua terra natal, Farroupilha; e outro sobre a história de sua própria família -, Raul teve este cuidado em preservar seus documentos, com todo zelo possível. Esta Biblioteca é resultado deste esforço e trabalho para divulgar o conhecimento. Aqui você vai poder procurar o que existe em toda sua coleção. Se tiver interesse em nos visitar, teremos prazer em recebê-lo.
Abaixo, segue a transcrição de uma entrevista feita por Gisele Belusso, doutoranda em Educação pela Universidade de Caxias do Sul, que ocorreu na própria biblioteca do Raul, no dia 20 de julho de 2015.
Raul:
Eu queria lhe contar que escrevi um livro sobre Farroupilha e que tem uma parte do Colégio Nossa Senhora de Lourdes.
Entrevistadora:
Hum…
Raul:
Por exemplo 1920 esteve aqui o arcebispo Dom João Becker que na época o arcebispado de Porto Alegre era que comandava todo o Estado. Não existia as Dioceses que existem hoje.
Entrevistadora:
Sim.
Raul:
Por exemplo nos aqui formamos a Diocese de Caxias do Sul. Ou bispado de Caxias do Sul.
Então na ocasião 1920 nós já tínhamos aqui a estrada de ferro que foi inaugurada em 1910 nós tínhamos a estrada Julio de Castilhos em 1911 e a rua… estrada Coronel Pena de Moraes que é essa que passa aqui. Só que como rua morre aqui de fronte a hidráulica, depois ela segue do outro lado do núcleo do São José e que se tornou aforma de fugir do pedágio, a estrada que segue Forqueta, desvio Rizzo e entra em Caxias pela Vila Kaiser.
Entrevistadora:
Que é antiga estrada né, era só essa.
Raul:
Isso tudo aí fez com que João Becker, como já disse 1920, numa visita que fez aqui e depois a Caxias ele ficou impressionado porque o núcleo original aqui é Nova Vicenza lá em baixo com a Igreja de São Vicente, mas inclusive com a vinda da estrada de ferro a Julio de Castilhos não cruza por dentro de Nova Vicenza vai por fora por mais adiante ele transferiu assinou um decreto aqui transferindo a paróquia de Nova Vicenza para cá. Na época Farroupilha era tão pequena que essa era a Igreja que tinha aqui.
Entrevistadora:
Sim,eu tenho essa foto.
Raul:
Conhecia?
Entrevistadora:
Sim de madeira ainda.
Raul:
Ficava na esquina lá onde tem agora os ônibus.
Entrevistadora:
Sim,a parada.
Raul:
Em 1935 foi inaugurada essa que é a nossa atual, então ele transferiu a paróquia de lá para cá porque nos já contávamos aqui com um forte comércio e transferiu também o Colégio das irmãs, tu tem isso na história?
Entrevistadora:
Sim eu só não aonde era o Colégio, em qual casa ficava em Nova Vicenza.
Nesta? Olha essa eu não tinha.
Raul:
Essa foto aqui é de 1922.
Entrevistadora:
Ninguém tem essa foto seu Raul, olha que linda!
Raul:
Bom essa foto aqui é assim ó, como não tinha um outro lugar para localizar o Colégio das Irmãs eles localizaram neste galpão de madeira, se nota aqui no fundo que era ali onde era o Grande Hotel. Sabe onde é?
Entrevistadora:
Naquela esquina que foi desmanchado?
Raul:
Sabe o Hospital Cibelli? Na esquina. Ali tinha um galpão de madeira, isso foi o primitivo do Colégio das Irmãs e nessa ocasião foi tirada essa foto aqui, na ocasião da transferência delas é evidente tiraram essa foto aqui, transferindo lá de baixo para cá. Primeiro passo. Segundo passo foi uma doação que o Monsenhor Bombardelli fez para as irmãs e elas se localizaram ao lado da igreja atual, lá em cima. Construíram um prédio de madeira ali. E passaram a atuar ali.Isso deve ter sido por volta de 1930, 30, 31, 32, coisa assim. Aí elas permaneceram até o ano de 1942 nesse prédio de madeira e no ano de 1943 é que passaram para o atual prédio. Que eu tenho aqui essa foto aqui que é do Colégio atual.
Entrevistadora:
Bonita essa foto!
Raul:
Em 1942 a ultima turma que concluiu o curso primário naquele colégio de maneira foi essa aqui ó.
Entrevistadora:
Olha o Dino, eu tenho essa foto.
Raul:
Tem essa foto?
Entrevistadora:
Tenho.
Raul:
Estou eu aqui no canto.
Entrevistadora:
Aham, eu tenho.
Raul:
A última turma que concluiu o curso primário daquele prédio de madeira, que depois o Monsenhor Bombardelli transformou aquilo em Salão Paroquial. Até depois terminar contudo. Tá?
Eu comecei a frequentar o Colégio em 1937.
Entrevistadora:
1937.Desde de o Jardim o senhor me comentou que freqüentava.
Raul:
Exatamente.
Entrevistadora:
E elas sempre tiveram Jardim de Infância o senhor lembra se desde essa casa na Julio de Castilhos elas já tinham o jardim?
Raul:
Aqui em baixo na primeira casa?
Entrevistadora:
É?
Raul:
Nessa aqui não. Não posso contar nada é um tempo que não vivi. Aqui por exemplo essa foto aqui me foi dada pelo Millo Ornaghi. Ele esta aqui nessa foto como criança mas não sei qual é, ta ele e o irmão dele. É que tem tantas que eu não sei que é eles.
Entrevistadora:
Sim, é difícil identificar.
Raul:
Sim.Então é assim eu me isolei, quando conclui o curso muito pouco eu frequentei a escola. Quando eu entrei no Banco em 1969 eu vim trabalhar aqui como gerente do Banrisul, que eu fiquei de 69 a 75 nesse meio tempo meus filhos frequentaram o Colégio Nossa Senhora de Lourdes e ai me convidaram para presidente … não sei como chama… não sei se ainda existe…
Entrevistadora:
A associação de pais e mestres
Raul:
Isto,
Entrevistadora:
OCPM, existe ainda.
Raul:
E uma a primeira semana da pátria nós conseguimos formar uma… não é propriamente uma orquestra. Eu morei em Canela e lá havia a fábrica de acordões Sonelli e eles faziam também umas .. é…como chamava-se aquilo.
Entrevistadora:
Escaleta,
Raul:
Hum?
Entrevistadora:
Escaleta.
Raul:
Deve ter lá ainda.
Entrevistadora:
Tem ainda, tem.
Raul:
Fui eu que trouxe lá de Canela e então formamos uma orquestra de escaletas.
Entrevistadora:
Hum, que foi o inicio da banda então?
Raul:
Isso deve ter sido já em 72, 73 um negócio assim, por aí
Entrevistadora:
Está ótimo.
Raul:
Porque a minha filha por exemplo já com 11, 12 anos fez parte dessa turma e desfilaram na semana da pátria, tocando escaletas.
Entrevistadora:
Olha só.
Raul:
Eu era presidente da associação.
Entrevistadora:
Tem muitas fotos da banda e das meninas com as escaletas.
Raul:
Ainda tem lá
Entrevistadora:
Sim,ainda tem e ainda são usadas.
Raul:
Não sei se tem data.
Entrevistadora:
Mas não tem problema.
Raul:
Provavelmente minha filha tem foto, mas ela embarcou ontem para os Estados Unidos.
Entrevistadora:
Não tem problema.
O Sr. trouxe aspectos bem importantes que irão me ajudar, não tem problema.
Raul:
Estão aqui então a turma todo, alguns já conhece?
Entrevistadora:
Sim, conheço.
Raul:
Das gurias só tem uma, as outras duas morreram dos rapazes os dois Valentini morreram, também o Aroldo Hilguert, em dezembro passado, o resto está por aí ainda. De modo que foi ai que eu fui aprender a ler e escrever o que me lembro. O que era as irmãs que a gente mais se relacionava era a irmã Henriqueta e Irmã Alice.
Entrevistadora:
Sim,
Raul:
A Irmã Henriqueta é que cuidava mais dos menores e a irmã Alice era já do me lembro bem do quarto, quinto ano, quarto, quinto ano. Já pro fim, já na conclusão do curso né.
Entrevistadora:
Sim,ela foi diretora também.
Raul:
A irmã Alice foi diretora também e depois eu me encontrei com ela que ela estava aqui em Caravaggio que tem aquele Seminário das Irmãs e ali infelizmente ai foi começou a desgraça dela. Que ela estava entrando no quarto e costumavam encerrar o assoalho e ela quando pisou no tapete ela foi parar embaixo da cama, quebrou a perna fez o diabo. Começou o fim dela, dois ou três meses ela faleceu. Eu estive lá no dia seguinte e ela estava na cama, cheia de dores.
Entrevistadora:
Olha só uma situação pequena as vezes causas grandes estragos.
Raul:
Mas o que se vai fazer né?
Entrevistadora:
É.
Bom eu trouxe algumas curiosidades minhas assim com relação a, se o Sr,não recorda não tem problema foram coisas que eu achei até na documentação. Por exemplo lá em 1940 tem na ata dos exames finais que vinham os inspetores o senhor como aluno da professora Irmã Maria Emília. O senhor lembra dela? Do segundo e terceiro ano.
Raul:
(PAUSA)Nem tanto quanto as outras duas que eu já falei, realmente essa aí também.
Entrevistadora:
E o senhor aprendeu a ler com a irmã Henriqueta?
Raul:
Acho que sim, por que ela pegava os pequeninhos e ia até certa altura porque eram poucas irmãs. Elas que lecionavam, era bem diferente do que é hoje o ensino.
Entrevistadora:
O Sr. lembra um pouquinho desse dia a dia, como era?
Raul:
Nós cantávamos muito, era tudo na base da cantoria.
Entrevistadora:
Hum, e tinha uma rotina assim chegava e tinha o momento da oração.
Raul:
Sim, os pequenos principalmente, é que uma irmã de origem católica etc. tem que também ensinar também a religião. Então tudo que era religião era cantado. E também no meio de alguns ensinamentos,também era Be-a-bá, etc.
Entrevistadora:
Elas aproveitavam o canto?
Raul:
Também era na cantoria, isso eu me lembro. O que já não acontecia, já não era a mesma coisa quando os anos foram passando e a situação também ficando mais difícil para aprender as coisas. Eram sempre prioridades né. Mas a forma de… ensinamento das irmãs, eu achoque valeu porque, porque eu o que eu aprendi foi ler e escrever,agora me lembrei de uma outra coisa…
Entrevistadora:
Sim, pode ficar a vontade.
SEU RAUL TRAZ SEU ATESTADO DE CONCLUSÃO DO CURSO PRIMÁRIO EM 1942.
Olha o atestado! 1942. O Sr. me permite fotografar?
Raul:
Pois não, pode.
Entrevistadora:
Vamos tirar com cuidado que não fica o reflexo. Ele é original ou o Sr.reconstituiu.
Raul:
Eu reconstitui.
Entrevistadora:
Mas está perfeito.
Essas coisas tem que conservar com carinho.
Raul:
Eu tive que tirar detalhes para fazer isso ai, consegui. Mas é original! Assinatura da Irmã Alice.
Entrevistadora:
FOTOGRAFO ATESTADO.
Ficou perfeito, vamos guardar que isso aqui é relíquia.
Raul:
Já é alguma coisa né?
Entrevistadora:
Sim, já é alguma coisa.
E o senhor lembra se tinham muitos alunos na mesma sala? Se tinham alunos de mais de uma série.
Raul:
Não,na nossa sala por exemplo, tinha só essa turma aqui (refere-se a turma da formatura de 1942). Nós tínhamos nossa sala num porão, lá embaixo só tinha aquela sala, em cima tinha… é a direita digamos era os mais velhos e a esquerda era dos pequenos.
Entrevistadora:
Eram só três?
Raul:
Mais no fundo me lembro que era a cozinha, sala de refeições das irmãs e na parte de cima também tinham salas, a Dulce minha irmã concluiu no ano anterior 1941, era uma sala em cima. Mas é que tinha também uma parte da clausura das irmãs. Então depois eliminaram aquela sala para ficar a clausura e transferiram lá para o porão. Por isso que essa turma aqui concluiu lá em baixo.
Entrevistadora:
Sim, mudou.
Raul:
Sim extremo, lá de cima, para lá embaixo.
Entrevistadora:
Então não eram turmas grandes, elas tinham pouquinhos alunos por turma.
Raul:
Eram sempre pequeninhas que nem essa aqui.
Tinha o que aqui 10, 12, mais ou menos uma coisa assim, né.
Entrevistadora:
E a profe Maria Alice daí era profe só de vocês nesse ano da formatura.
Raul:
Como?
Entrevistadora:
A profe Maria Alice era profe só de vocês só ela dava aula para vocês ou tinha alguma irmã que auxiliava ela.
Raul:
A tinha sim, tinha, não era só ela, digamos que ela era a administradora do ultimo ano, mas não era só ela tinha outras.
Entrevistadora:
Isso me chamou a atenção como ela conciliava o cargo de direção e ela também assina os boletins eu pensei que pudesse ter alguém que a ajudasse e também ela deixa um grande número de atas, o que deveria ser trabalhoso na época.
Raul:
Sem dúvida.
Entrevistadora:
Então ela tinha alguém que auxiliava.
Raul:
Mas tinha, o grupo de irmãs eu não saberia dizer mas eu creio que seguramente eram mais de dez irmãs que tinham.
Entrevistadora:
Já tinha um número maior então, porque começaram com cinco.
Raul:
Mais ou menos, eu não afirmar.
Entrevistadora:
Sim, sim, mas já tinham mais.
Raul:
Eu sei que pelas atividades, tinha uma que não saia da cozinha, fazia só isso.
Não saia da cozinha.
Entrevistadora:
Mas ela cozinhava para as irmãs?
Raul:
Sim só para as irmãs.
Entrevistadora:
Vocês iam meio turno para escola?
Raul:
Não a gente só sabia, não tomava conhecimento, mesmo como criança não tinha interesse nesses detalhes. Quando já era maior começava a ver mais detalhes, ah olha aí tem duas cadeiras, né, de cor tal, cruzou por aqui duas ou três irmãs ou nenhuma, quem será?
Era maior né, isso quando criancinha não.
Entrevistadora:
Tá certo, e o senhor lembra das comemorações cívicas, se era uma coisa muito cobrada o civismo o hino nacional?
Raul:
Sem dúvida! Com muita clareza, muita profundidade, semana da Pátria então era organizada dias antes, tempo antes, com ensaios, desfiles,etc e tal. Havia até um pouco de concorrência com os outros colégios na praça. Então um queria ser melhor do que o outro e assim por diante. Até que na ocasião o foi quando houve a o americano pousou na lua, nós fizemos o carro, eu devo ter a foto aqui. Meu filho… BUSCA A FOTOGRAFIA.
Nós inventamos um carro que sinalizava assim o terreno da lua, e tinham três meninos que seriam quem foram para lua e esse aqui é meu filho, ele foi um dos meninos.
O outro era filho do Picoli e o terceiro era o … esqueci o nome.
Entrevistadora:
Eu tenho a foto do carro, o senhor tem?
Raul:
Do carro, eu tenho sim.
Entrevistadora:
O senhor tem? Senão eu lhe traria eu tenho.
FOTOGRAFO A IMAGEM DO FILHO VESTIDO DE ASTRONAUTA.
Tem na escola é uma das fotos que tem guardada, como é o nome de seu filho que eu quero registrar?
Raul:
Raul Antônio.
Caracterizado.
Entrevistadora:
Lindo, olha que lembrança linda e olha a qualidade da foto está muito boa.
Raul:
Saiu bem né?
Entrevistadora:
Sim, saiu bem.
Olha só.
Raul:
Eu tirei do computador isso e ficou boa.
Entrevistadora:
E o senhor lembra das irmã falando italiano na escola ou elas todas já usavam o português?
Raul:
Normalmente só o português.
Entrevistadora:
Só o português?
Raul:
Entre elas é possível que elas conversassem em italiano, mas com nós não tenho lembrança de ter ouvido elas se dirigirem a nós em nosso dialeto aqui.E isso era muito comum nós em casa eu ainda hoje conservo isso, essa moça que temos aqui ela vem de Veranopólis, evidentemente da casa dela, permanentemente e seguida trocamos palavras e eu gosto muito porque minha ideia é conservar, sempre que possível que eu encontro alguém que eu posso trocar algumas palavras no dialeto eu gosto.
Entrevistadora:
Tem que aproveitar mesmo. E os materiais didáticos que vocês tinham na escola? O senhor lembra se era ardósia, se já tinha caderno?
Raul:
Sim,sim eu devo ter aqui, aí… eu não sabia se não já tinha preparado. VAI EM BUSCA DOS MATERIAIS.
Entrevistadora:
Não tem problema se o Sr. tiver o caderno e os livros…
Raul:
VOLTA COM A PASTA COM OS TRABALHOS DO JARDIM DA INFÂNCIA E CADERNOS.
Isso aqui é do jardim de infância.
Entrevistadora:
Olha!
Raul:
Olha a data 1936, ó.
Observamos o boletim.
Olha…solfejo.
Entrevistadora:
E os meninos também faziam os trabalhos manuais, né?
Raul:
Sim, isso aqui são os trabalhos manuais do Jardim da Infância.
Acho que é 38 esse.
Entrevistadora:
O Sr. me autoriza fotografar?
Raul:
Pode.
Entrevistadora:
Posso?
Raul:
Que esses aqui eu não tenho (me refiro aos boletins) eu tenho só do quarto e quinto ano.
Entrevistadora:
FOTOGRAFO O BOLETIM.
E o que eram os exercícios de inteligência?
Raul:
Silêncio
Entrevistadora:
Não lembra?
Raul:
Talvez fossem esses trabalhos aqui.
Entrevistadora:
Elas tinham os exercícios de inteligência, o catecismo, jogos, eu achoque davam outros nomes.
Raul:
Isso aí eu não lembro.
Entrevistadora:
Olha que riqueza, isso é uma raridade! (me referindo a sua pasta de atividades do Jardim da Infância). Isso tem que guardar.
Raul:
Ah eu guardo!
Entrevistadora:
É um pecado saber que tem famílias que as pessoas guardam a vida inteira e depois vai para o lixo.
Raul:
É que eu fiz muitas mudanças, esse é meu problema, por isso que não tenho tudo aquilo que eu gostaria de ter.
Entrevistadora:
Mas tem coisas importantes. Os livros dessa época o senhor não conservou?Os livros que vocês utilizavam na escola? Os cadernos?
Raul:
É isso que eu estou pensando… deixa eu ver uma coisa.
Entrevistadora:
Enquanto eu vou fotografando, olha a perfeição.
Raul:
Espera um pouquinho. Eu devo ter…Ai meu Deus… eu vou dar um pulo ali embaixo que eu tenho mais um material ali e me parece que eu tenho um livro lá embaixo.
Entrevistadora:
ENQUANTO FOTOGRAFO AS ATIVIDADES E CADERNO DE DESENHO FORNECIDOS PELO ENTREVISTADO.
Raul:
Esta me fazendo buscar coisas bem antigas.
Entrevistadora:
Rsrsrsrs, lembrar a infância. Olha que amor desde o jardim de infância a Bandeira Nacional.
Foi muito cobrado pela Era Vargas as questões do civismo. E o Sr.conheceu o Oscar Rodrigues Dornelles?
Raul:
Quem?
Entrevistadora:
Oscar Rodrigues Dornelles?
Raul:
Esse foi o segundo diretor do grupo escolar de Farroupilha.
Entrevistadora:
Ele foi fiscal particular de ensino depois de ter sido diretor e nas comemorações cívicas ele…
Raul:
O primeiro foi o doutor Antão de Jesus Batista e o segundo foi o Oscar Dornelles. Esta registrado aqui no meu livro.
Entrevistadora:
E esse livro? Ele está a venda nas livrarias, onde eu consigo acessá-lo?
Raul:
Por enquanto esta aqui comigo.
Entrevistadora:
O senhor tem que colocar a venda divulgar esse livro.
Raul:
Está a venda sim.
Entrevistadora:
Eu gostaria de adquiri-lo então, como muito prazer autografado.
Raul:
Ah! Com certeza!
Entrevistadora:
Eu vou colocar aqui para não amassar (me refiro a pasta com as atividades do jardim de infância).
Raul:
Acho alguma coisa aí?
Entrevistadora:
Sim,os trabalhos, são essenciais para o que eu quero escrever.
Raul:
Esse aqui é que eu tenho dúvidas, catecismo, doutrina cristã.
Este aqui…. é que não tem nada, diz alguma coisa…esse aqui eu não vou garantir se foi para primeira comunhão ou se foi usado também no colégio.
Entrevistadora:
Vocês mesmo a escola sendo de irmãs tinham que fazer a catequese na paróquia?
Raul:
Exatamente.
Agora este aqui sim, este eu fiz uma capa para aguentar um pouco, ele tava toda esfacelado, até eu mandei cortar um pedaço, olha aqui é,curso elementar de geografia atlas. Só que a capa…Esse era do tempo do colégio esse era.
Entrevistadora:
Esse era um dos livros que elas usavam?
Raul:
É. Bom só no olhar ele a qualidade do papel que se vê ai, dá uma ideia né?
Esse aqui eu tenho dúvida, eu não vejo nada, talvez tenha sido só para a primeira comunhão.
Entrevistadora:
Pode ser.
Esse aqui eu vou fotografar então.
Raul:
Esse que é o problema não vejo data aqui. (referindo-se ao livro de catecismo)
Entrevistadora:
E esses livros elas forneciam ou os pais compravam, o Sr. lembra?
Raul:
Pois é! Não, não compravam não, isso aí era lá do colégio mesmo. Elas providenciavam. As próprias editoras que traziam para o colégio.Me parece que sim. Mas é sensacional essa … como se chama isso.
Entrevistadora:
O atlas.
Raul:
O atlas geográfico né?
Entrevistadora:
É, olha a riqueza de detalhes.
Raul:
Eu ainda guardei alguma coisa né?
Entrevistadora:
Guardou muito bem. E o capricho dos trabalhos manuais.
Raul:
Ah bom isso ai é.
Entrevistadora:
Muito caprichoso.
Eu percebi que até determinada série todos participavam das artes manuais depois no último ano só as meninas tem nota. Será que elas já faziam bordado outras coisas assim?
Raul:
Que eu me lembre não.
Entrevistadora:
É que só as meninas tem nota nos livros de exames, quando tinha os exames finais, só as meninas tem nota.
E o senhor também fui lá procurar no segundo e terceiro ano tem anota e no quarto e quinto não.
Raul:
É
Entrevistadora:
Acho que era algum procedimento padrão delas.
Raul:
Deixa eu ver se tem aqui…
Entrevistadora:
E o prédio novo só foi ocupado em 43, antes elas não iam pra lá fazer atividade nenhuma?
Raul:
Não, não, atividade nenhuma.
Evidentemente que estavam preparando, eu me lembro que em 42 quando terminou a construção a partir daí tinha que definir as salas para as aulas,um montão de coisa, o próprio local onde elas viveriam, iriam ficar.
Entrevistadora:
É que elas tem uma ata de inauguração na biblioteca no ano de 1940. E aí me chamou a atenção porque eu sabia que a mudança só tinha sido em 43. Que até a Dulce fez o discurso.
Foi a Dulce que fez o discurso de inauguração da biblioteca em 1940.
Raul:
É mesmo?
Entrevistadora:
Eu tenho aqui uma reportagem do jornal vou lhe mostrar.
Fotografias suas na escola o senhor não tem?
Raul:
Não dessa época aí não. Infelizmente nós não tínhamos, não se usava, eu tenho de pequeno, mas da primeira comunhão não tem nada a ver. O que eu tenho de fotografia do colégio é essa aqui (refere-se a foto da formatura).
Entrevistadora:
E o senhor não tem ela digital essa da escola de 1922?
Raul:
Essafoto, essa foto aqui? (Mostra a foto da escola que consta em seu livro)
Entrevistadora:
É.
Raul:
Eu devo ter, tenho. Só que esta aqui para descobrir onde esta, o que ocorre é o seguinte ela faz parte dos elementos que eu selecionei para este livro. E eu tenho dentro de três caixas, não tenho ideia de onde é que esta.
Entrevistadora:
Aham.
Raul:
Infelizmente eu…
Entrevistadora:
Essa é uma que eu não tenho. Eu tenho uma bem bonita no casarão ao lado do igreja. Mas nessa casa eu nem sabia ao certo onde era.
Raul:
A casa?
Entrevistadora:
Eu tenho do prédio ao lado da igreja. Essa que o senhor tem no livro eu não sabia nem onde era a escola quando era na Julio de Castilhos. Não tinha conseguido descobrir.
Raul:
Ah!Sim, sim! Essa aqui.
Entrevistadora:
Aina década de 40 quando abre o Studio Dal Monte tem bastante, mas anterior tem pouquíssimas.
Raul:
Monsenhor deu muita cobertura para as irmãs.
Entrevistadora:
E ele frequentava a escola?
Raul:
O monsenhor?
Entrevistadora:
É.
Raul:
Não.
Eu não me lembro de ter visto ele lá, ele que trouxe o ginásio São Tiago, foi ele que trouxe. Eu fiz parte da primeira turma do Colégio São Tiago.
Entrevistadora:
É? Olha!
Raul:
Daquela turma que inaugurou o ginásio São Tiago, que é foi assim um pré-ginásio, não era nem o primeiro ano nem coisa nenhuma.
Entrevistadora:
Eu quero ver se encontro a editora.
Raul:
Dá para abrir a capa.
Entrevistadora:
Ah! É que eu não quero estragar.
Raul:
Aqui ó. Não sei se tem aqui alguma coisinha.Isso aqui foi só para…
Entrevistadora:
Olha muito bem conservado!
Raul:
Eu acho que era isso, o que o senhor lembrava, os materiais, a semana da pátria, acho que conseguimos conversar bastante. Tem elementos importantes para pesquisa.
Entrevistadora:
Nestemomento desligo o gravador e realizo a compra do livro o qual égentilmente autografado pelo autor. Explico ao Sr. Raul queretornarei com a entrevista transcrita e combinei que ligo antes paracombinarmos. Bem como será neste momento assinado o termo deconsentimento.